Dia do sexo: o que é coreorgasmo? Entenda como esse tipo de orgasmo pode acontecer na academia

Vinicius de Araujo
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“Achei estranho a primeira vez que tive um coreorgasmo na academia, pensei que só eu sentia isso. Fiquei constrangida, mas depois passei a achar normal quando acontece.”

Esse foi o relato, entre tantos outros na internet, de uma mulher sobre a experiência de ter um orgasmo durante a prática de exercícios. Para muita gente, o orgasmo está estritamente relacionado à experiência sexual, mas não é bem assim.

Segundo o pesquisador Alfred Kinsey, no livro "Sexual Behavior in the Human Female” ("Comportamento Sexual na Mulher"), publicado em 1953, uma em cada dez mulheres experimentam o orgasmo praticando atividades físicas em algum momento da vida, sem qualquer contexto sexual.

  Na época, as pesquisas do autor eram muito criticadas e consideradas polêmicas. Pouco se estudou sobre este tema após aparecer pela primeira vez na literatura científica. Só em 2011, o termo, até então chamado de Exercise-Induced Orgasm (EIO), foi retomado na Universidade de Indiana, nos Estados Unidos, pela educadora sexual Debby Herbenick, no estudo “Orgasmo e prazer induzidos pelo exercício entre Mulheres”.

A cientista estudou as experiências de 370 mulheres que vivenciaram a experiência de gozar ao se exercitar: 33% chegaram ao orgasmo. Herbenick se aprofundou no tema, que ganhou a definição de “coreorgasmo”, e lançou o livro The Coregasm Workout: The Revolutionary Method for Better Sex Through Exercise (O Treino Coreorgasmo: O Método Revolucionário para um Sexo Melhor por Meio de Exercícios, em tradução livre), em 2015.

“Eu não sabia o nome, mas já gozei muito na academia. Por muitas vezes evitei, tive que parar a sequência de exercícios para não gozar”, relata uma das usuárias que se manifestou sobre a experiência.

“Achava que eu era uma maníaca em sexo por ter orgasmo na academia, mas agora sei que é normal. E vou te contar, viu? É muito bom!”, descreve outra.

Afinal, o que é coreorgasmo?

Pode parecer um pouco confuso para muita gente, mas o coreorgasmo nada mais é do que um orgasmo induzido por exercício, como explica Bruna Krawczyk, fisioterapeuta pélvica com atuação na saúde da mulher, doula e educadora perinatal.

“Mais especificamente por movimentos que incluem a ativação intensa da região abdominal e do assoalho pélvico associadas. Embora o coreorgasmo possa ser uma experiência surpreendente, ele é normal e não representa nenhum problema de saúde, pode ser um efeito colateral inesperado, mas bem-vindo, na prática de exercícios”, explica ela.

E se ainda é comum perceber a confusão levantada pelo uso do prefixo “core” no termo, é importante ressaltar que em nada tem a ver com uma “coreografia”, conforme destaca Jô Ferreira, psicóloga e sexóloga da Clínica Espaço da Mente.

“Core é o conjunto de músculos que envolve a região abdominal, lombar, pelve e quadril. Quando a atividade física ativa essas regiões, ocorre uma contração também nos músculos do assoalho pélvico, ativando também o clitóris e região interna da vagina que possui terminações nervosas”, detalha a especialista.

Ioga e tantra também estimulam

Mas esse fenômeno não se limita à prática de exercícios que estimulam intensamente a região pélvica. “Isso acontece porque há um aumento do fluxo sanguíneo nessa área. E durante a atividade física, há também aumento dos níveis de endorfina e serotonina, hormônios que favorecem um cenário propício para o orgasmo”, acrescenta a fisioterapeuta pélvica Laura Della Negra.

  Ela cita como exemplo atividades físicas como yoga, conhecidas por trabalharem a respiração de maneira profunda: “Existe uma conexão significativa entre o diafragma respiratório e o diafragma pélvico, similar à massagem tântrica, na qual a ênfase está na respiração e no relaxamento da musculatura.”

Na massagem tântrica focada no orgasmo feminino, a técnica trabalha tanto a contração quanto o relaxamento dessa musculatura, junto com a respiração adequada: “Aumenta-se o fluxo sanguíneo para o assoalho pélvico. Combinado aos efeitos dos hormônios mencionados, isso facilita a ocorrência do orgasmo”, explica Laura Della Negra.

‘O orgasmo mais doido da minha vida!’

“Eu já tive esse coreorgasmo sem ser na academia. Foi com uma meditação em movimento chamada Kundalini (Osho), que começa com movimento pélvico. Só não sabia o nome”, destaca uma usuária na internet. E a partir desse tipo de relato, é possível perceber que as atividades que podem proporcionar o orgasmo induzido por exercício (EIO) são bastante variadas.

“Nunca tinha ouvido falar sobre isso, já tive bastante coreorgasmo quando corria”, afirmou uma outra mulher. “Já me aconteceu de ter um coreorgasmo andando de bicicleta, foi o orgasmo mais longo e doido da minha vida!”, acrescentou uma outra usuária.

Bruna Krawczyk cita a importância inicial de se entender a anatomia do corpo feminino. “O autoconhecimento é um dos componentes fundamentais para que a mulher seja capaz de atingir orgasmos. A grande maioria dos orgasmos femininos é vinculada à estimulação direta ou indireta do clitóris. Ele tem a função de excitação sexual e aumenta de tamanho após a sua estimulação tátil, por ser muito inervado e vascularizado”, explica.

  Agora, basta contextualizar com o exercício físico: “A musculatura abdominal e de assoalho pélvico têm inserções em comum, ou seja, se direcionam para o mesmo lugar, naquele ossinho que temos na região da frente da vagina, o púbis. Imagina essa região erógena sendo superativada, num exercício que recruta bem essas fibras da região anterior da vagina, e ainda com uma fricção na região?”

E é assim que o clitóris pode responder com um orgasmo! A partir do estímulo, o órgão manda um sinal ao cérebro, que começa a liberar os neurotransmissores do prazer. Bruna cita como exemplo a cadeira flexora na posição deitada de barriga para baixo.

“Quem faz certinho o movimento de dobrar os joelhos, ativando o abdômen e o assoalho pélvico, vai incrementar a circulação na região do clitóris, podendo chegar ao orgasmo. Outro exemplo é a elevação pélvica com a barra sobre o quadril, assim como o agachamento, que promove um abrir e fechar da vagina. Isso pode estimular o clitóris”, explica ela.

Laura Della Negra ressalta que, não necessariamente a pessoa terá essa experiência sempre que praticar os exercícios: “Vai depender também de como ela vai estar nesse dia, da intensidade do exercício. Mas com certeza tem um aumento de chance de ela ter a segunda experiência.”

Abdominal pode proporcionar coreorgasmo

Dentre alguns exercícios mais comuns, ela destaca ainda a elevação da perna (“aquela postura da águia”) e bicicleta, pelo aumento da circulação no clitóris ou pela ideia de respirar e relaxar a musculatura. “Excesso de contração direto no assoalho pélvico pode também levar ao orgasmo”, acrescenta a fisioterapeuta pélvica.

‘Detesto abdominal, mas quando soube disso, fiz 100 só para passar pela experiência de ter um orgasmo na academia’

“Abdominal infra é danado pra me causar isso, já passei vergonha!”, relata outra usuária.

Bruna Krawczyk encoraja as mulheres que tenham interesse em ter um coreorgasmo: “Acredito que nem todo mundo consiga passar por este fenômeno, afinal, o orgasmo feminino é multifatorial e existe muito tabu a respeito do tema. Mas creio que, se a mulher deseja ter esta experiência, quanto maior a consciência corporal acerca desta região e maior a sua ativação, sim, mais chance de atingir o ápice.”

A especialista dá uma dica para ativar a região do clitóris e chegar lá: “A ideia é contrair o assoalho pélvico simultaneamente e, se tiver a fricção, melhor ainda. Quanto maior o autoconhecimento, maior as chances de passar por esta experiência.”

É importante ressaltar que não existem dados que apontem a frequência do coreorgasmo, mas estudos apontam que 33% das mulheres já chegaram a esse ápice durante atividades físicas.

Prazer em qualquer idade

Qualquer pessoa pode ter essa experiência, independentemente de idade, afirma a especialista. Mas destaca que, assim como o orgasmo no contexto sexual, algumas mulheres têm e outras não. “E não é restrito às mulheres, pode ser sentido por homens também. Mas são as mulheres quem mais vivenciam, até pela questão anatômica”, afirma.

Jô Ferreira lembra ainda de ter atendido muitas mulheres que relataram em consultas ter experimentado uma sensação "prazerosa estranha" durante a atividade física. “Já atendi uma senhora de 50 anos, viúva, que não tinha mais vida sexual. E ela teve a experiência de sentir o coreorgasmo pedalando”, afirma a sexóloga.

“O que acontece é que a sexualidade feminina ainda é carregada de tabus, crenças, medos e algumas mulheres não se permitem sentir esse prazer em um ambiente como uma academia, se sentem constrangidas, inadequadas e isso limita vivenciar de forma genuína esse fenômeno”, explica

Fonte: GShow 

 

 

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