Tomorrowland Brasil entregas vibes muito maiores do que ‘música eletrônica’

Vinicius de Araujo
By -
0

 

Falar de música eletrônica parece, ainda, um desafio para quem gosta de falar “não gosto de música eletrônica”. E isso não se aplica só ao público em geral, mas também à imprensa e até de alguns festivais desse gênero. O Tomorrowland Brasil, que aconteceu nesta sexta (11) e sábado (12) e ainda acontece neste domingo (13), é um ótimo momento para —tal como o Norvana do tuíte de Dinho Ouro Preto— unir todas as tribos.

No segundo texto dessa série, nós contamos como aproveitar o último dia de Tomorrowland baseado nessas observações e, de repente, tropeçar em jóias escondidas do line-up extenso do festival.

Primeiro, é maneiro compreender quem vai ao Tomorrowland e que festival é esse. Muito dos fãs dessa tal “música eletrônica” estão em festivais como esse por muitos motivos além da música. Te parece algo? Sim, o Tomorrowland funciona da mesma forma como todo gigantesco evento: tende a agradar a todos, a servir bem e, principalmente, entreter. Esses “fãs de música eletrônica” também operam de formas diferentes no local: uns gostam de determinado artista, outros gostam de determinado estilo e muitos estão ali porque gostam de tudo o que acontece no palco principal, o chamado Mainstage, independente do que seja.

No sábado, por exemplo, tocaram neste palco artistas como o duo sueco Adriantique e o belga Lost Frequencies, que usaremos de exemplo para essa incursão, e são artistas totalmente diferentes um do outro. A reportagem da Billboard Brasil assistiu a ambos os shows de locais diferentes. O primeiro foi visto em posição muito mais próxima ao palco —o que, considerando as proporções descomunais do palco e do festival, pode ser melhor descrita como uma posição “em tentativa inócua de chegar ao front, mas com ardor necessário para ficar perto de um dos telões que ampliam as atrações”. E, de repente, muita coisa se explica e se sente —mesmo que você seja essa pessoa do primeiro parágrafo, a que diz “curto tudo, menos eletrônico”.

O que sente um fã de música eletrônica no front

Em qualquer festival desse porte, as atrações musicais são um dos elementos que fascinam a multidão que se aglomera no palco principal. Você olha pra frente e enxerga tudo e —por vezes, não consegue achar os DJs. Então, você olha para frente e vê detalhes incríveis de uma floresta, de cascatas de água, aí vem fogo, fumaça, dragões. Ao seu lado, todas as pessoas estão vivendo —ou tentando viver— o melhor momento possível. E é aqui que entra a música porque a foto já foi tirada, o vídeo já foi filmado e até uma ligação de vídeo com um grande amigo já foi feito. Se a música fosse desconectada disso tudo, seria ruim. E não é nem desconectada, tampouco ruim porque o grave está incrivelmente alto em seu peito e a curadoria do evento privilegia artista que saibam o que essa galera precisa: graves potentes, ecos de gêneros musicais conhecidos e alguns refrãos conhecido.

Por exemplo: o duo Adriantique fez dançar muito com o que as pessoas costumam chamar de EDM (eletronic dance music), que seria a MPB mais popular da eletrônica. Eles tocaram, certa hora, um remix que continha o refrão de “Zombie Nation”, do Kernkraft 400. Antes que você diga “eu não conheço”, é um sample que você ouve em “Que Pressão É Essa”, hit da Furacão 2000 feito pelo Dennis DJ, e que também estava no Maracanã quando a torcida do Flamengo cantava de verdade o grito “Que Torcida É Essa”.

Quando você olha para o lado, ali do front, não há ninguém conversando, muitos estão de olhos fechados, outros estão cantando. Interrompo a vibe de Adriana Niele, de 29 anos, e pergunto, pedindo desculpas, se ela é tipo de pessoa que está sempre no front. “Eu gosto mais daqui, dá pra sentir mais”, disse resumida enquanto o duo sueco sapecava “The Future Is Unknown”, um sacode absurdo que contraria tudo o falado mais acima porque não tem letra e é hipnótico, quase rave.

Isso é suficiente para entender como, mesmo com uma direção mais pop, este palco acaba tendo momentos muitos diferentes. Essa própria música, por exemplo, é progressiva e vai criando um efeito de acúmulo sonoro enquanto explora inúmeras possibilidades. Muitas dessas pessoas que estão ali dançando este som um tanto complexo e brisante são muitas vezes consideradas “de gosto inferior” por muitos dos amantes de festivais e festas menores (bem menores) que o Tomorrowland. Não é complexo? É. Mas também é a prova de como a música eletrônica, por mais pop que seja, como essa que estamos descrevendo, muitas vezes também anda com um pé no acelerador em busca de um futuro.

Ah, e detalhe importantíssimo: a música é altíssima.

O que sente um fã de música eletrônica que está distante do palco

Estar distante deste palco gigantesco também é outra sensação e abre espaço para um outro tipo de fã de música eletrônica. Ele não é tão fanático assim pela atração principal e tampouco quer ficar espremido. “Eu odeio multidão”, diz de bate pronto Lucas Ricci, de 30 anos. Conto ao bem humorado bancário das sensações descritas anteriormente. Ele assente, compreende. “É, tem a vibe, as coisas lá são mais gostosas, mesmo. Mas aqui eu estou bem, tranquilo”.

WhatsApp Image 2024 10 13 at 09.09.44
Lucas Ricci, de 30 anos: “odeio multidão”
PIN IT

O som para quem está a 500 metros do palco é também muito alto, ainda seja bem menos intenso que o sentido no front. O mineiro Wallace Alves, de 30 anos, conta que vai ver o Lost Frequencies em um clube de Belo Horizonte e que, nem sempre, é essa pessoa de ficar lá para trás. “Ah, eu às vezes vou lá para frente, se tiver muito animado”, começa. “Daqui, eu consigo ver o palco todo. Lá da frente, os efeitos de luz você vai ver uma piscada e tal. Daqui, é tudo”, complementa.

De longe, o palco Mainstage se assemelha muito a algum castelo ou atração auge de uma Disneylândia. Na transição do duo sueco para o DJ belga, um mestre de cerimônias agradeceu aos primeiros e anunciou o segundo. Uma introdução se fez, muitas luzes piscavam ao ritmo de um techno quase colorido, com camadas sonoras e, de repente, Lost Frequencies chegou às pickups. Novamente, uma outra surpresa para quem achava que esse palco é só farofada: o grisalho e carecudo DJ espancou. Ele possui uma vibe bem hard techno, ou seja, brisa menos nas camadas e foca mais em um bate estaca que flerta muito com os anos 1990. Virou rave, como em “Freestyler (Rock The Microphone)”, e, aí, muitas das pessoas que estavam atrás começaram a se locomover em direção ao front —uma missão impossível àquela altura, mas louvável. Wallace não foi.

“Se eu ficar ali [aponta para o centro do front, onde também ficam bandeiras das mais diferente nacionalidades], como eu vou sair e frequentar os outros palcos?”, indaga sabiamente, denunciando que esses que estão lá, bem enfiados no meio do público, devem ser fãs incondicionais dos artistas ou da própria vibe do festival. Ele, não. Ele quer circular e passear pelas outras curadorias.

Fonte: Billboard Brasil

Postar um comentário

0Comentários

Postar um comentário (0)