Nas andanças da música popular

Vinicius de Araujo
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Nascido carioca numa família musical, Danilo Caymmi tem como primeiras lembranças, no que diz respeito à arte, seu pai, Dorival, dedilhando violão na sala de estar de sua residência. Foi em homenagem a outras memórias que o intérprete, compositor e arranjador lançou em janeiro um disco que passeia pelo cancioneiro dos festivais de música brasileira. Trazendo toda essa bagagem, ele aterriza hoje em João Pessoa, no palco do Projeto Seis & Meia, apresentando-se no Teatro Paulo Pontes, do Espaço Cultural, a partir das 18h30. O número de abertura ficará a cargo de Liss Albuquerque.

O contato com o pai e os irmãos mais velhos, Dori e Nana Caymmi, logo encaminharam Danilo para os trilhos da música. A noção de que fazia parte dessa família de gênios também veio logo cedo para o caçula. A fase das “canções praieiras” de Dorival, cujas letras eram odes ao mar e à vida dos pescadores, forja o acontecimento mais marcante na vida do então menino, que, adulto, viria a se tornar um exímio flautista.

“Nessa rotina da gente, com muitas viagens, ele acabava tocando muito em casa também. E, desde muito pequeno, eu me emocionava ouvindo as músicas dele. Ao crescer é que comecei a ver a importância que ele de fato tinha para a música popular brasileira”, recorda Danilo.

A gênese de suas experiências profissionais se deu como instrumentista nos álbuns de Dorival e de outros colegas. As luzes do palco acenderam para Danilo com a participação dele na terceira edição do Festival Internacional da Canção Popular (FIC), em 1968. Naquela oportunidade, apresentou a faixa “Andança”, composta em parceria com Edmundo Souto e Paulinho Tapajós, que alcançou o terceiro lugar e projetou Beth Carvalho, artista que defendeu a música na competição: “Por onde for, quero ser seu par”. “A internet traz um comportamento completamente diferente daquele que tínhamos com a lógica dos festivais. Eu mesmo produzi meu álbum mais recente e subi as músicas nas plataformas”, ele compara.

O primeiro projeto fonográfico feito longe da família foi lançado em 1973: Beto Guedes, Danilo Caymmi, Novelli, Toninho Horta, gravado junto com os outros três colegas de gravadora. O seu voo solo, de fato, veio em 1977 — o LP Cheiro Verde, produzido de forma independente. “Depois desse disco, fui chamado para a Banda Nova, que acompanhava Tom Jobim. Ele me descobriu como cantor, porque no Cheiro Verde eu não colocava a minha voz como hoje. A partir daí, os meus lançamentos passaram a ser mais frequentes”, rememora Danilo. Ainda nos anos 1980, ele assinou contrato com a Rede Globo para a produção de trilhas sonoras originais de programas da casa.

 Caminhos levam ao Tom

Lançando no primeiro semestre, o álbum Andança 5.5 faz referência, no título, à canção em que Danilo foi reconhecido como compositor e o tempo decorrido desde então. Mas o disco passeia por outras faixas imortalizadas em outros festivais ou neste, como “Sabiá” e “Pra não dizer que não falei das flores”, respectivamente a vencedora e a vice-campeã do FIC, também em 1968. “O repertório foi escolhido a partir da minha inserção no contexto dessas canções, direta ou indiretamente. No festival de 1967, Nana defendeu ‘Bom dia’, música dela com Gilberto Gil. No mesmo ano, eu estava lá, mas como flautista na banda do Roberto Carlos”, exemplificou, citando outra faixa.

A capa do Andança 5.5 traz uma pintura de autoria do próprio cantor. Seu pai também era conhecido por seu trabalho como artista visual, mas o percurso de Danilo na pintura se deu mais tarde: apenas na pandemia, ele voltou a exercitar o desenho, a partir do conhecimento adquirido como estudante de Arquitetura, graduação que acabou abandonando para trabalhar com música. “Durante o isolamento, eu comecei a pintar em casa e achei os resultados muito bacanas. Essa coisa pictórica e o uso das cores (os tons de vermelho e azul no encarte do disco) também são herança do meu pai”, revela.

No início do mês, Danilo anunciou a produção de um novo álbum: Um Tom Sobre Jobim, tributo ao compositor em parceria com a cantora americana Stacey Kent. Eles entram em estúdio em dezembro e aproveitam o embalo para fazer duas apresentações no Brasil: em São Paulo, no dia 7, e no Rio, no dia 8. “Já fiz alguns shows com ela e gravamos juntos ‘Estrada do sol’, para outro disco em homenagem a Tom, mantendo uma amizade dentro e fora do palco”, conta o artista.

Liss Albuquerque abre a noite

O pessoense Liss Albuquerque abrirá o show de Danilo Caymmi logo mais. Há quase cinco décadas trabalhando com arte, o neto do maestro Pedro Batista Albuquerque conviveu pouco com o avô, mas não deixou de aprender música dentro de casa, observando, a distância, as aulas de violão de sua mãe e reproduzindo as notas depois. “Minha família queria que eu fosse agrônomo, mas resolvi me mudar para o Rio de Janeiro, em 1978. Lá trabalhei no ramo turístico e fui fazer teatro, participando das montagens de Eles Não Usam Black-Tie e A Constituinte da Nova Floresta”, rememora.

As muitas influências culturais constituíram o artista que nasceu Alexandre Albuquerque. Seu nome artístico (que antes tinha apenas um S), inclusive, veio da canção “Flor de lis”, de Djavan, e foi dado por um produtor.

O repertório de logo mais passeia pelo trabalho de artistas importantes para Liss, a exemplo de Belchior e Zé Ramalho, mas também trará faixas autorais, como “Cadê você” e “Cidade morena”, colaborações com Alberto Arcela.

Liss elogia a atração principal da noite: “Danilo Caymmi é uma referência dos festivais. ‘Andança’ foi uma das músicas que mais toquei ‘nos bares da vida’”.

DANILO CAYMMI
- Hoje, às 18h30 no Teatro Paulo Pontes (Espaço Cultural, R. Abdias Gomes de Almeida, 800, Tambauzinho, João Pessoa)
- Ingressos: R$ 120 (inteira), R$ 90 + 1 kg de alimento não perecível (social) e R$ 60 (meia), antecipados na plataforma Outgo.
Use o link para acessar o site de venda de ingressos

Fonte: A União

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